Pedagogia

Pedagogia

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Sala de aula interativa: a educação presencial e à distância em sintonia coma era digital e com a cidadania.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
CURSO PEDAGOGIA

Alcides de Jesus França

SILVA, Marcos. Sala de aula interativa: a educação presencial e à distância em sintonia coma era digital e com a cidadania. INTERCOM, Campo Grande, 2001.

Fichamento

“Vivemos a transição do modo de comunicação massivo para o interativo. Um
processo em curso de reconfiguração das comunicações humanas em toda sua amplitude. No universo tecnológico temos a emergência do dispositivo “conversacional” “.

“O usuário pode ouvir, ver, ler, gravar, voltar, ir adiante, selecionar,
tratar e enviar qualquer tipo de mensagem para qualquer lugar. Em suma, a interatividade permite ultrapassar a condição de espectador passivo para a condição de sujeito operativo”.

“Seja lá o nome que se dê, era digital, cibercultura, sociedade de informação ou
sociedade em rede, o fato é que em nosso tempo a interatividade é desafio não só para os gestores da velha mídia, mas para todos os agentes do processo de comunicação”.

“A inquietação é visível entre empresários e programadores de tv quando os
mais antenados anunciam que daqui a dez anos vai parecer absurdo ter um aparelho de tv em casa pelo qual não se possa enviar nada, apenas receber”.

“Eles percebem que um programa interativo na tv deve permitir que os
telespectadores definam o rumo que ele toma, que a passividade da tv significa perda progressiva de audiência, e que o espectador tende a permanecer ligado ou conectado se puder participar da programação”.

“A inquietação dos empresários e programadores de tv diante da interatividade não encontra eco na escola e nos sistemas de ensino. É preciso despertar o interesse dos professores para uma nova comunicação com os alunos em sala de aula presencial e virtual”.

“Muitos educadores já perceberam que a educação autêntica não se faz sem a
participação genuína do aluno, que a educação não se faz transmitindo conteúdos de A para B ou de A sobre B, mas na interação de A com B”.

“No entanto, esta premissa ainda não mobilizou o professor diante da urgência de modificar o modelo comunicacional baseado no falar-ditar do mestre que se mantém inarredável na era digital”.

“Na sala de aula presencial prevalece a baixa participação oral dos alunos e a
insistência nas atividades solitárias. Na educação à distância via tv o perfil comunicacional da “telessala” ou da “teleaula” se mantém em grande parte centrado na lógica da distribuição, na transmissão massiva de informações ou “conhecimentos””.

“Portanto, seja na sala de aula “inforrica” (equipada com computadores ligados à Internet), seja no site de educação à distância, seja na “telessala”, seja na sala de aula INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação –Campo Grande /MS –setembro 20014 “infopobre”, é preciso ir além da percepção de que o conhecimento não está mais centrado na emissão”.

“O termo apareceu na década de 1970 no contexto da crítica à mídia unidirecional evirou moda a partir de meados dos anos 80 com a chegada do   computador com múltiplas janelas (windows) em rede. Janelas que não se limitam à transmissão. Elas permitem ao usuário adentramento labiríntico e manipulação de conteúdos”.

“É o caso, por exemplo, de softwares, de programas de tv ou mesmo de escolas e cursos que são divulgados como interativos, mas que na verdade adotam o adjetivo apenas como excelente argumento de marketing que faz engolir a pílula”.

“E quanto às escolas e cursos via web (e-learning) que se autointitulam interativos, o que se tem na verdade é a sala de aula aparelhada com computadores, internet, tecnologia 3D (capacete com óculos e fone)
servindo principalmente para intensificar e modernizar o velho modelo da transmissão, ou o site estático que disponibiliza textos para a leitura livresca e não dispõe de recursos para intervenção nos conteúdos, para co-criação, aprendizagem colaborativa”.

“Interatividade é um conceito de comunicação e não de informática. Pode ser
empregado para significar a comunicação entre interlocutores humanos, entre humanos e máquinas e entre usuário e serviço”.

“O receptor não está mais em situação de recepção clássica. A mensagem só toma todo o seu significado sob a sua intervenção. Ele se torna, de certa maneira, criador. Enfim, a mensagem que agora pode ser recomposta, reorganizada, modificada em permanência sob o impacto das intervenções do
receptor dos ditames do sistema, perde seu estatuto de mensagem ‘emitida’. Assim, parece claramente que o esquema clássico da informação que se baseava numa ligação unilateral emissor-mensagem-receptor, se acha mal colocado em situação de interatividade”.

“De fato, o computador se encontra diretamente associado ao termo exatamente porque na sua memória imagens, sons e textos são convertidos em bits de modo a sofrer qualquer tipo de manipulação e interferência, sem degradação ou perda da informação”.

“Esta concepção de arte ou “antiarte”, como preferia Oiticica, inconcebível fora da perspectiva da co-autoria, tem algo a sugerir ao professor. Mesmo estando adiante dos seus alunos no que concerne a conhecimentos específicos, propor a aprendizagem na mesma perspectiva da co-autoria que caracteriza o parangolé”.

“O professor propõe o conhecimento. Não o transmite. Não o oferece à distância para a recepção audiovisual ou “bancária” (sedentária, passiva), como criticava o educador Paulo Freire”.

“Ele propõe o conhecimento aos estudantes, como o artista propõe sua obra potencial ao público. Isso supõe, segundo Thornburg & Passarelli, “modelar os domínios do conhecimento como ‘espaços conceituais’, onde os alunos podem construir seus próprios mapas e conduzir suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento”.

“O aluno não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Ele cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se co-autor”.

“Uma pedagogia baseada nessa disposição à co-autoria, à interatividade, requer a morte do professor narcisicamente investido do poder. Expor sua opção crítica à intervenção, à modificação requer humildade. Mas diga-se humildade e não fraqueza ou minimização da autoria, da vontade, da ousadia”.

“Nos livros Pedagogia do oprimido, Educação e mudança, e A importância do ato de ler, Paulo Freire faz críticas à transmissão como sendo o modelo mais identificado como prática de ensino e menos habilitado a educar. Cito algumas: “O professor ainda é um ser superior que ensina a ignorantes. Isto forma uma consciência bancária [sedentária, passiva]”.

“P. Freire não desenvolveu uma teoria da comunicação que dê conta de sua crítica à transmissão. No entanto, deixou seu legado que garante ao conceito de interatividade a exigência da participação daquele que deixa o lugar da recepção para experimentar a cocriação”.

“O hipertexto é o novo paradigma tecnológico que liberta o usuário da lógica
unívoca da mídia de massa. Ele democratiza a relação do usuário com a informação gerando um ambiente conversacional que não se limita à lógica da distribuição. Em suma, o hipertexto é essencialmente um sistema interativo materializado no chip permitindo complexidade na informação e na comunicação”.

“O professor contador de história é aquele que centra a comunicação no seu falarditar disparando lições-padrão. É o emissor que atrai o receptor para seu universo mental, para seu imaginário, para sua récita”.


“Então é preciso enfatizar: o essencial não é a tecnologia, mas um novo estilo de pedagogia sustentado por uma modalidade comunicacional que supõe interatividade, isto é, participação, cooperação, bidirecionalidade e multiplicidade de conexões entre informações e atores envolvidos”.

Um comentário:

  1. A introdução das novas tecnologias nas instituições de ensino, tem se apresentado como facilitadora nas propostas contemporâneas de obtenção de aprendizagem. Freire contribui com isso dizendo que , " nunca fui ingênuo apreciador da tecnologia: não a divinizo, de um lado, nem a diabolizo, de outro. Por isso mesmo sempre estive em paz para lidar com ela. Não tenho dúvidas nenhuma do enorme potencial de estímulos e desafios à curiosidade que a tecnologia põe a serviço das crianças e adolescentes..."(Freire, 97).

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